Doca

Raul Fernando do Amaral Street, mais conhecido como Doca Street, no dia 30 de dezembro de 1976, matou com quatro tiros no rosto e um na nuca a socialite mineira Ângela Diniz.

O crime aconteceu numa casa situada na praia dos Ossos de Cabo Frio, no Rio de Janeiro.

Raul e Angela viviam juntos havia três meses. Ambos vieram de casamentos desfeitos. Angela Maria Fernandes Diniz casou-se pela primeira vez, em Belo Horizonte, quando tinha 17 anos, com o engenheiro Milton Vilas Boas; o casamento durou nove anos e tiveram três filhos. No desquite (não havia ainda o divórcio) Angela ficaria com imóveis, mas a guarda dos filhos com Milton.

Raul Fernando do Amaral Street deixou a mulher e os filhos, depois de conhecer Ângela em agosto de 1976 num jantar em São Paulo.

O relacionamento de Raul e Angela era tumultuado, perturbado. Ele demonstrava muito ciúmes e tentava impedi-la de agir do jeito que ela queria. Na casa de praia usavam maconha e Vodka.

A mulher nascida em Belo Horizonte, no dia 10 de novembro de 1944 tinha um comportamento bastante liberal, independente, agitado, não aceitava controles e brigava por suas opiniões. Ela envolveu-se em escandalos na imprensa por três vezes.

Na primeira foi acusada pela morte do empregado caseiro, mas o então seu namorado na época Tuca Mendes, que era casado, assumiu a autoria do homicídio, livrando Ângela. Tendo Tuca Mendes se responsabilizando pela autoria do crime, foi julgado e absolvido sob a alegação da legitima defesa da honra.  

Na defesa alegaram que o empregado tentara estuprá-la, razão pela qual fora assassinado.

Na segunda vez que Ângela apareceu nos jornais foi por supostamente ter sequestrado sua filha da casa da avó, levando-a de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro.  Ela foi processada e condenada a seis anos de prisão, mas um recurso à instancia superior livrou-a da condenação.

A terceira manchete que anunciava a prisão de Angela deu-se por causa do flagrante de porte de maconha pela polícia do Rio de Janeiro. Ela alegou em sua defesa que se tornara viciada desde o momento em que presenciara a morte do empregado.

O fato que desencadeou o crime aconteceu depois que Angela se envolveu na praia com a alemã Gabrielle Dayer que se aproximou oferecendo artesanato.

Na beira da piscina Raul e Angela discutiram muito. Ela o mandou embora. Doca pegou algumas coisas, retirando-se; mas depois de ter percorrido alguns quilômetros voltou. Doca, ajoelhando-se diante dela, que estava sentada, ao lado da piscina, pediu que não o abandonasse. Angela disse então que se ele quisesse ficar com ela teria de aceitar seu relacionamento com outros homens e mulheres.  Nesse clima de muita vodka e maconha, durante a discussão violenta, quando ela se levantava para adentrar a casa, ele a matou.  

Doca Street foi julgado duas vezes. O primeiro julgamento aconteceu em Cabo Frio no dia 18 de outubro de 1979. Atuou na defesa o famoso advogado Evandro Lins e Silva.

Raul Street foi condenado à reclusão por dois anos com direito a suspensão da pena.

O resultado desse julgamento provocou imenso movimento popular de protesto, mais intenso ainda por parte das feministas divulgados amplamente pela imprensa.

Em recurso a primeira sentença foi anulada. O segundo julgamento aconteceu em novembro de 1981, tendo atuado na defesa do réu o Dr. Humberto Telles. Raul Street foi condenado a 15 anos de reclusão.

Tendo cumprido a pena, Raul Fernando do Amaral Street morreu no hospital Samaritano em São Paulo, no dia 18 de dezembro de 2020 (sexta-feira), aos 86 anos.

Sobre Fernando Zocca

Fernando Antônio Barbosa Zocca é brasileiro, casado, advogado e blogueiro, publica seus textos na Internet há mais de 10 anos tendo iniciado no site usinadeletras.com.br. Foi funcionário da prefeitura municipal de Piracicaba por seis anos. Advogou na comarca de Piracicaba por mais de 20 anos e hoje pratica a caminhada, o ciclismo e a corrida. Em 1982 publicou seu primeiro romance Rosas para Ana.
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