Cãozinho estropiado

cadela do infernoO pau que nasce torto e que, teoricamente morreria torto, se fosse um cãozinho, deveria aprender a conviver com os seus semelhantes, para não destoar assim tão ostensiva e agressivamente dos outros.
Pedagogias existem, tanto para os cãezinhos comuns, quanto para os assimétricos.
Cabe aos papais e às mamães o direcionamento dos seus filhotes a fim de que, adestrados, possam conviver no quarteirão sem ladrarem ou atacarem os vizinhos.
O problema, entretanto parece não ter solução se a mamãe cachorrinha também possui disparidade na consolidação do chassis.
Eu quero deixar expresso que não tenho nenhum tipo de preconceito contra os cachorrinhos estropiados. Só não concordo com o fato de serem, as suas deficiências, usadas como desculpa a todos os danos e dissabores que causam aos outros.
As alegações de que cachorrinhos assim não fazem mal a ninguém podem facilmente ser contestadas com a presença dos interessados no local, a fim de comprovarem o desassossego e os danos por eles produzidos.
A cegueira dos parentes próximos para as crueldades dos cãezinhos tortos pode ser confortável. Afinal a negativa da existência dos problemas não deixa de ser uma espécie de defesa da própria paz.
Ou seja, é mais fácil dizer “eu não tenho nada com isso” do que estar presente, todos os dias, para afagar os bichinhos depois de servi-los com a ração e ossos.
As escolas especiais de adestramento exigem certa disciplina dos cachorrinhos morfologicamente prejudicados. Mas compete às mamães cachorrinhas a insistência do comparecimento e da permanência deles nas instituições veterinárias.
Engana-se, e muito, quem acha que cãezinhos tronchos, que latem, não mordem.
Na opinião de muita gente eles são os piores: latem e mordem. Os desajeitados têm a característica de acreditar que, por apresentarem esta ou aquela forma, os olhares a eles dirigidos o são para a chacota.
E quem meu amigo leitor, quem se disporia a dizer que, apesar deles serem feios, pobres e desengonçados, ainda assim possuem algo de venerável?
Eu, por estar escolado no assunto, – já levei mordidas que me doem até hoje – não me atrevo nem a chegar perto.
Você tem dó, compaixão?
Adote. Leva um deles pra casa.

Sobre Fernando Zocca

Fernando Antônio Barbosa Zocca é brasileiro, casado, advogado e blogueiro, publica seus textos na Internet há mais de 10 anos tendo iniciado no site usinadeletras.com.br. Foi funcionário da prefeitura municipal de Piracicaba por seis anos. Advogou na comarca de Piracicaba por mais de 20 anos e hoje pratica a caminhada, o ciclismo e a corrida. Em 1982 publicou seu primeiro romance Rosas para Ana.
Esse post foi publicado em Crônicas e marcado , , , , , , , . Guardar link permanente.

Deixe um comentário