O Cadeado

100_2141Não duvide que quando o locador deseja aumentar o valor dos aluguéis, ou almeja a desocupação do imóvel, além de comunicar o fato diretamente ao locatário, pode também tecer inúmeras armadilhas objetivando desacreditá-lo.
O mesmo acontece com o locatário que, arrependido da locação, e não tendo como safar-se das cláusulas penais do contrato, pode imaginar mil motivos, justificadores da necessidade da revogação.
Desta forma, como negar que o vizinho, ao atender a solicitação da locatária, para que a ajudasse a tirar o cadeado do portão, não tivesse a intenção de invadir a casa a fim de lhe prejudicar?
Nesta pendenga entre locador e locatário, a criação das intrigas surge das tensões mal resolvidas da relação.
Um fato bem conhecido deu-se assim: um casal jovem alugou uma casa numa rua sujeita a enchentes durante as chuvas torrenciais.
É claro que os novos inquilinos desconheciam o fato de que durante a menor chuva, o bueiro existente no local mais baixo do quarteirão, não absorvia as águas, causando assim a inundação dos imóveis do trecho.
Ao verem que todos os seus móveis novos estariam sujeitos a deterioração, depois de submersos nas águas das chuvas que se aproximavam, o casal resolveu rescindir o contrato na imobiliária.
Acontece que a rescisão do contrato locatício, antes do prazo final, sujeita o desistente a multa.
Como o casal não tinha os valores para pagar a despesa, e muito menos as do transporte da mobília, resolveu ajeitar um motivo sério pra abandonar o local, sem desembolso nenhum com a imobiliária.
Então, numa bela manhã ensolarada, quando um certo vizinho passava defronte a casa dos locatários arrependidos, a mulher dizendo que seu marido havia saído, levando consigo a chave do cadeado do portão, pediu-lhe que o abrisse para ela.
O ingênuo, sem imaginar as consequências do seu ato, acreditando na conversa da mulher, que tinha uma criança chorosa no colo, voltou para casa e, pegando um alicate de pressão, fixou-o num dos suportes do cadeado.
Com alguns movimentos de vai-e-vem quebrou a parte do portão onde o cadeado se fixava.
Aberto o portão ele estranhou o sorriso de sarcasmo da mulher. Não imaginava o retardado que aquele ato serviria para a quebra da avença firmada com a imobiliária.
E foi assim que o casal arrependido, com o filho no colo, mais os pais dela e os pais dele, ao se queixarem na administradora do imóvel, que eles tinham sido vítimas de uma tentativa de invasão, por parte dum vizinho esquisito, conseguiram sair sem pagar coisíssima nenhuma.
Na evasão não providenciaram nem mesmo a pintura da casa, prevista no contrato.
E na conta do bom samaritano ficou a despesa feita para soldar a parte do portão sacada com o alicate.

Sobre Fernando Zocca

Fernando Antônio Barbosa Zocca é brasileiro, casado, advogado e blogueiro, publica seus textos na Internet há mais de 10 anos tendo iniciado no site usinadeletras.com.br. Foi funcionário da prefeitura municipal de Piracicaba por seis anos. Advogou na comarca de Piracicaba por mais de 20 anos e hoje pratica a caminhada, o ciclismo e a corrida. Em 1982 publicou seu primeiro romance Rosas para Ana.
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