Fronti nulla fides

(Não nos fiemos nas aparências)

Um jeito bem comum de compensar aquele sentimentozinho básico de inferioridade é a ostentação.
As diferenças gritantes entre as pessoas induzem algumas personalidades a fazerem da exibição do carro velho, simulações de agregação familiar e sucesso nos negócios, as respostas àqueles que supostamente lhes provocariam o mal estar.
A exibição ostensiva é como se a descompensação afirmasse “quer ser muito importante, gostoso e aparecer, mas veja só o meu carro, como eu dirijo; veja o meu cachorro, que não sai da rua, e a nossa família, que de tão unida, vai à escola levar e trazer os seus dependentes”.
As diferenças existem no nível da escolaridade: a pessoa que não compreende um texto pode se sentir ofendida por aquele que o interpreta de forma comum, normal.
A sensação de mal estar pode então levar a personalidade orgulhosa a difamar, executar atos danosos contra o bem sucedido ou mesmo causar comportamento jactancioso.
Não é raro ouvir alguém justificando, para uma criança, a própria ineficiência, diante do desempenho do outro: “Ah, é um vagabundo. Ele ia na escola quando era criança. Nói tinha que cortá cana”.
Quando as diferenças notáveis ocorrem na forma física, a justificativa dos adultos inferiorizados, aos dependentes, pode ser: “É viado; gosta de assistir novelas. Nem ligue”.
E quando as posses materiais incomodam as personalidades inquietas, a explicação, sempre depreciativa, pode ser: “É um ladrão vagabundo. Não goste dele.”
Da mesma forma que os dedos das mãos não são todos semelhantes, as pessoas não são iguais.
Ao invés de maldizer as virtudes alheias seria bem melhor melhorar as péssimas próprias.
As oportunidades sociais, no entanto, devem ser iguais para todos, sem distinção.

Sobre Fernando Zocca

Fernando Antônio Barbosa Zocca é brasileiro, casado, advogado e blogueiro, publica seus textos na Internet há mais de 10 anos tendo iniciado no site usinadeletras.com.br. Foi funcionário da prefeitura municipal de Piracicaba por seis anos. Advogou na comarca de Piracicaba por mais de 20 anos e hoje pratica a caminhada, o ciclismo e a corrida. Em 1982 publicou seu primeiro romance Rosas para Ana.
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