Deixa ele…

mesquitaQuem teria a cara de pau de, estando um casal hospedado num hotel, em lua de mel, aparecer de surpresa, sem ser convidado, e fazer gracinhas?
Quem teria a coragem de irromper na casa daquele a quem o considerava um bom colega pedindo-lhe emprestada a máquina de escrever com o objetivo de preencher, com falsidades, os documentos constituintes dos direitos de aposentadoria, de uma centena de pessoas, junto ao instituto de previdência social?
Quem teria a audácia de convidar vários casais de pessoas amigas para passarem uma noite na chácara onde semanas antes abusara sexualmente duma menor de idade, criando desta forma, situação que causaria dúvidas sobre a autoria do crime?
Quem, meu amigo, quem se tornaria proprietário de posto de gasolina só pra se aproveitar das mocinhas ingênuas previamente contratadas para os supostos cargos de encarregadas da administração?
Quem a não ser ele, o mais fenomenal, esperto, satírico, satânico, lascivo e indestrutível Donizete Pimenta Aarder seria assim tão capaz de tantas artimanhas, safadezas e esquisitices mil pra ver-se satisfeito diante do sofrimento alheio?
Quem viveria da jogatina de baralho nas sedes sociais dos clubes de futebol, ganhando e perdendo dinheiro e automóveis?
Quem, a não ser o finório Donizete Pimenta Aarder, responderia a todos que lhe perguntassem o que fazia no momento, com “o que se faz aqui, nesta cidade? Se tivesse praia, eu estaria lá. Antigamente havia o clube de Regatas. Nessas horas, com esse calor, eu estaria na piscina”?
Quem teria a caradura de entrar numa agência de automóveis e, emitindo um cheque sem fundos, “comprasse” um veículo zero quilômetro e depois, respondendo sobre se havia ou não fundos para o cheque, responderia com a ideia de que até a devolução do documento ele teria a posse do carro e poderia, enquanto isso, viajar ao Rio de Janeiro, (onde ingeriria sucos das mais variadas frutas), a fim de possibilitar a aceleração dos tramites burocráticos que possibilitariam a obtenção de mais um benefício previdenciário fraudulento?
Quem, hã? Quem a não ser o inabalável Donizete Pimenta Aarder o finório inquebrantável e sempre sujeito oculto da polícia e do ministério público, seria capaz de perder no carteado, a casa em que morava com suas filhas, deixando-as desamparadas?
Entretanto, quando informaram ao Delegado de Polícia sobre os deslizes atuais da tal figura, a autoridade teria respondido num tom que amedrontaria até ao mais frio e calculista meliante:
– Deixa ele… Deixa ele pra mim que ele vai ver como as coisas funcionam…

Sobre Fernando Zocca

Fernando Antônio Barbosa Zocca é brasileiro, casado, advogado e blogueiro, publica seus textos na Internet há mais de 10 anos tendo iniciado no site usinadeletras.com.br. Foi funcionário da prefeitura municipal de Piracicaba por seis anos. Advogou na comarca de Piracicaba por mais de 20 anos e hoje pratica a caminhada, o ciclismo e a corrida. Em 1982 publicou seu primeiro romance Rosas para Ana.
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