Beabá

Camilo Castelo Branco, escritor português. 1825-1890. Foto: internet/divulgação.

Ele foi filho duma empregada doméstica. O pai era solteiro e punido sob a acusação de fraudes no Correio, mas seu avô, pai do seu pai, era desembargador.
Esse é o começo da vida do escritor português Camilo Castelo Branco (foto) nascido em Portugal aos 16 de março de 1825 e falecido no dia 1 de junho de 1890, aos 65 anos de idade.
Quem quiser saber mais sobre esse notável e talentoso autor português basta buscar, como eu o fiz, lá na biblioteca pública, os livros que ele escreveu.
Você pode objetar dizendo que não é preciso, nestes dias atuais, ir às bibliotecas para saber deste ou daquele assunto, já que pelo Google o mundo inteiro, tudo, o imaginável e o inimaginável, podem ser acessados e conhecidos. Mas eu digo-lhe que o material impresso concede-nos certa segurança, certeza, que o mundo virtual não consegue, por enquanto, inspirar.
De Camilo li e gostei do Amor de Perdição, que recomendo ao pessoal chegado aos prazeres da boa leitura.
Depois de ter ido devolver o livro, pensei em fazer, de ônibus, o trajeto de volta para casa. No terminal central, com sorte, consegui um assento na jardineira, que já se mostrava completamente lotada.
Ao meu lado estava sentada a moça alta, forte, loura, olhos claros, que manejando um celular, indicava estar alheia ao mundo em redor.
Pela força com que ela mascava o chiclete notei que estava bem tensa. E esse nervosismo manifestou-se, quando o ônibus, já em movimento, chacolejava ao passar pelos buracos da via.
Depois de uma sacudida mais forte, ela tirou os fones do ouvido e botando o telefone na bolsa foi logo desabafando:
– Olha, não quero ser chata, mas a situação política atual é mais ou menos esta: o sujeito quando criança foge da escola com a desculpa de ter de trabalhar. Na verdade por motivos que não convém dizer agora, a criança ou adolescente são expelidos do nucleozinho educacional, indo pra lugar nenhum, sem ter o que fazer. Quando cresce, por uma fatalidade qualquer, é eleito pra fazer leis, isto é, dirigir os destinos daqueles que teriam sido seus professores. Mas como? Se o cidadão mal sabe escrever o próprio nome, o que faria ele de útil no meio do cipoal, emaranhado burocrático, rançoso e até desnecessário, duma cidade carente da realidade menos chauvinista? Bom, daí surgem então os gênios formados numa das maiores sinecuras desse nosso querido Brasil, propondo a criação duma escola pra vereadores. Vá vendo… Então o eleitor conclui que vale mesmo a pena deixar de estudar quando criança porque pode ser eleito e aprender, depois de velho, o beabá, na câmara municipal, recebendo ainda de quebra, o dinheirinho pago por quem contribui reiteradamente com o IPTU e outras imposições. Morou? Agora perceba que o chauvinismo aqui é muito próprio da mentalidade dos espertos que, exercendo uma espécie de penitência, se prestam a tecer loas em troca da remissão dos crimes que cometem. Prevejo que a estupidez, a imbecilidade, e a grosseria, muito comuns por aqui, tenham agora, com a reeleição, destes mesmíssimos e contumazes senhores, os bafejos revigorados, recrudescidos e fortalecidos. Com essa conversinha, esse papozinho, dessa gente recém-eleita, muito pouco se poderá fazer na transformação, desta terra de bosta, em algo mais significativo para o Brasil.
– Sem duvida nenhuma – disse eu à jovem, me levantando e dando, logo em seguida, o sinal para que o ônibus parasse.

Sobre Fernando Zocca

Fernando Antônio Barbosa Zocca é brasileiro, casado, advogado e blogueiro, publica seus textos na Internet há mais de 10 anos tendo iniciado no site usinadeletras.com.br. Foi funcionário da prefeitura municipal de Piracicaba por seis anos. Advogou na comarca de Piracicaba por mais de 20 anos e hoje pratica a caminhada, o ciclismo e a corrida. Em 1982 publicou seu primeiro romance Rosas para Ana.
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