Queijos e vinhos

Por falar em atropelamentos, calçadas, alcoolismo e mortes, a gente não deixa de lembrar uma tragédia ocorrida aqui na província, semelhante a estas que aconteceram nos dias atuais na Espanha, França e Inglaterra.
Era meado de 1960 quando na política mandavam os militares, na cultura a Jovem Guarda e, no coração dos adolescentes, é claro, as paixões.
As brincadeiras dançantes e os bailes carnavalescos aconteciam no Clube de Regatas, no Palmeirinhas, no Cristovão Colombo, no Coronel Barbosa, no Atlético Piracicabano e Clube de Campo.
Quem quisesse saborear deliciosos queijos e vinhos devia ir a certas bancas especializadas instaladas no mercado municipal.
Nos ginásios onde bons professores ministravam e alguns alunos aprendiam as matérias do segundo grau, os contatos com o sexo oposto aconteciam de forma bem diversa, excitante e divertida, dos usuais experienciados pela primeira vez nos lares.
A crença dominante entre os jovens era a de que somente conseguiria ter sucesso na conquista daquela garota desejadíssima quem tivesse um bom carro.
Entretanto quase ninguém dos apaixonados tinha idade suficiente para obter a habilitação; mas haveria alguma esperança a quem tivesse um pai ou tio proprietário de qualquer carro que fosse.
Se a moda era esperar a garota no portão do ginásio, logo depois do término das aulas, mais chique e revelador da importância social, seria esperá-la num belo e potentíssimo automóvel.
Mas, meu amigo, se o sujeito tinha o carro, mas não a namorada cumpria conseguir uma. E não haveria melhor forma de concretizar a tal façanha do que exibindo a si e ao seu lustroso veículo – mesmo que fosse furtado do pai – às prováveis e possíveis pretendentes, circulando em volta do quarteirão da escola, a muitos quilômetros por hora e… É claro, com os escapamentos abertos.
Pois foi assim que um promissor garoto, que amava os Beatles e os Rolling Stones, embriagadíssimo de vinho, obtendo de forma subreptícia o carro do pai, ao exibir-se numa tarde, durante a saída dos alunos duma famosa e tradicional escola, da região central da cidade, perdendo o controle, invadiu a calçada, atropelou, aleijou e matou muitas jovens.
As cicatrizes persistem até hoje. É uma realidade que ainda gera muitos lamentos, choros e murmurações tenebrosas.

Sobre Fernando Zocca

Fernando Antônio Barbosa Zocca é brasileiro, casado, advogado e blogueiro, publica seus textos na Internet há mais de 10 anos tendo iniciado no site usinadeletras.com.br. Foi funcionário da prefeitura municipal de Piracicaba por seis anos. Advogou na comarca de Piracicaba por mais de 20 anos e hoje pratica a caminhada, o ciclismo e a corrida. Em 1982 publicou seu primeiro romance Rosas para Ana.
Esse post foi publicado em Crônicas e marcado , , , , , , , , , . Guardar link permanente.

Deixe um comentário